Conheça um pouco mais sobre um ritual importante para os índios saterê-mawé: a dança da tucandeira
As partes principais da narração mitológica do ritual são feitas através de cantos, melodias especiais da tucandeira, e com palavras arcaicas, sobretudo para os nomes de animais, peixes e heróis culturais. Estas narrações penetram no fundo da alma do povo. É força. É a vida da tribo. Eles cantam e dançam melodias, palavras e ritmos especiais. Mas, por que os índios fazem a waty’amá? Por que eles se deixam ferrar pelas tucandeiras, colocadas vivas e presas em luvas especiais de talas de palha? Os velhos explicam:
1) A tucandeira foi dada para a saúde do índio; para o índio vencer a febre, o reumatismo e as dores. A sua ferroada é um tipo de remédio, uma vacina contra as doenças. Este é o aspecto terapêutico do ritual.
2) A waty’amá é realizada para a iniciação masculina, ou seja, quando o adolescente passa a ser considerado adulto. Mas também há casos de meninos de 6 a 8 anos que participam.
3) Através da dança da tucandeira o índio realiza a própria identidade tribal. Descobre de onde veio, para onde vai e dá sentido à própria existência dentro de um clã. Para ser um saterê-mawé, o certo mesmo é participar do rito waty’amá pelo menos 20 vezes durante a vida.
4) Todo o povo participa e aprecia como os candidatos se submetem ao doloroso rito de passagem. É também o momento de conhecimento e encontro das pessoas para futuros casamentos.
5) Às vezes, os velhos pedem que seja realizada a festa da tucandeira quando os índios querem ouvir lendas e narrações:
a memória tribal.
6) Também a cerimônia é feita para o índio ser um bom pescador, caçador, ter sorte na vida, no trabalho, na lavoura, ser corajoso e lutador: enfim, o aspecto propiciatório é pedir a Deus algo de bom para a vida das pessoas. Como aspecto mais conhecido da tucandeira o povo se junta para festejar a origem das estrelas, da lua, do sol, das águas, dos animais, da
floresta. É, enfim, a forma de louvar a Deus por tudo o que temos e somos. Cada povo, cada nação, tem o próprio modo
de pensar e viver os grandes acontecimentos da vida. A tudo isto nós damos o nome de cultura.
REFLEXÃO
A tucandeira parece ser uma forma para manter a saúde física e espiritual do índio e da tribo. Simboliza a força e a união de um povo. Tudo isso não impediu os saterê-mawé de receber o Batismo, hábito que tem mais de 300 anos. Eles acham que a evangelização cristã complementa e ajuda esse desejo de serem amparados pela força de Deus, Tupana, e de Anumarehit, Jesus Cristo. A sabedoria indígena dos antigos soube abraçar a fé cristã sem perder idioma, tradições e rituais próprios da sua cultura. Nas últimas décadas, a religião católica vem valorizando aspectos culturais indígenas que a sociedade dos chamados civilizados despreza e destrói. A reflexão desta edição termina com o salmo, que ensina: “Nações, louvai todas ao Senhor. Enaltecei-o povos todos porque grande é para nós a sua bondade. A fidelidade do Senhor permanece para sempre” (Sl 116).
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