(Apocalipse 17, 1-4)
Padre Toni suspira: “Veja! Para controlar o andamento das eleições a ONU enviou para o Camboja 30 mil soldados, de todos os países. Um serviço para a democracia, mas que se torna a desgraça de muitas garotas”.
São cambojanas, nepalesas, birmanesas, tailandesas… A prostituição dá muito lucro. São garotas jovens e pobres. Prometem dinheiro, fingem casamento, ‘compram’ dos pais ou as sequestram. Depois, sozinhas e perdidas, as transformam em caricaturas.
A prostituição é o símbolo da mentira: tudo aquilo que é lindo, profundo e pessoal é deformado, despersonalizado para convencer que se pode, com dinheiro, encontrar alegria, afeto e prazer.
Todos sabem mentir: o cliente que se sente forte porque paga, mas é um fraco e não encontra ajuda para estes falsos encontros; os exploradores que dizem ‘proteger’ e na realidade são patrões; as mulheres que recitam alegria e não podem exprimir suas necessidades de uma relação sincera, livre, que sacie seus corações.
O Apocalipse, nos capítulos 17 e 18, nos apresenta o orgulho deslumbrante e depois a ruína da “grande prostituta”. Não diz respeito às pobres garotas, obrigadas a se prostituirem. Diz respeito à sociedade e às pessoas que baseiam suas forças e suas riquezas no engano, na exploração, na fragilidade dos outros. Prometem a todos bem-estar, os fazem sentir orgulhosos e invencíveis e os levam longe das coisas verdadeiras. Longe de Deus, que é escondido pelos ídolos.
A cidade/prostituta é Babilônia, que havia esmagado e escravizou o povo de Israel; é Roma com seus imperadores que se faziam adorar como deuses. Em tempos mais próximos a nós, é o nazismo que ensanguentou o mundo, enganando-o com o mito da superioridade da raça; o comunismo que enche os campos de concentração impondo uma caricatura de justiça e de igualdade; o capitalismo e os governos que falam de mercado livre, eficiência, bem-estar, progresso, e se enriquecem com armas, guerras, fome e desespero dos pobres.
A verdade aparecerá e Deus se revelará como amor verdadeiro, que não atrai com cores berrantes, prazer, orgulho, mas se deixa colocar no coração; amor que cura o coração de uma pecadora, porque não permanece ofuscado pela falsidade de que foi obrigada a vestir-se; amor que intui a generosidade de uma pobre viúva, a fé de uma mãe desesperada como a cananeia, mesmo que pagã.
Ser cristão quer dizer continuar redescobrindo a simplicidade do Evangelho, porque nos liberta dos enganos de quem quer tornar-nos somente caricaturas de homens e mulheres.