Apocalipse 21, 9-13;23-27
Documentos, vacinação, passagens aéreas, leitura sobre o Mianmar e sobre os missionários… faltam poucas horas para a partida, padre Nicholas lhe diz que o filme será rodado em um leprosário. “Um leprosário? ”.
Sente-se mal. Quer jogar tudo para o alto. Mas como? Sente-se estupido por não ter se informado e um covarde por não partir. Parte!
Padre Cesare, administrador e médico do leprosário manda alguém buscá-lo no aeroporto e, durante a longa viagem, William quase esquece o que o espera. Solavancos e buracos, planícies consteladas de pagodes, florestas. O país é fascinante e lhe faz provar mil sensações…
No terceiro dia, o motorista diz uma palavra incompreensível. William entende que chegaram e o pânico toma conta dele. Em frente ao portão de bambu, o jovem encontra-se calorosamente abraçado por padre Cesare, aplaudido por uma multidão de cegos e mutilados com colares de flores no pescoço, acompanhados por uma banda. Segue o cortejo, sorri, aperta mãos, tropeça e finalmente encontra-se à mesa, com uma lamparina que lhe ilumina o prato de arroz, o estômago embrulhado e a cabeça estourando. Começa assim o mês mais estranho de sua vida.
Está sempre junto de padre Cesare, vendo-o agir e a escutá-lo: reza, brinca com as crianças, medica as feridas, briga com o fumante, compra arroz e pimenta, acolhe novos leprosos que chegam cansados da floresta, fala sobre Jesus, guerrilha, medicamentos, …
William se dá conta de que estes não são somente leprosos, mas são mulheres e homens, pais, filhos, mães, jovens golpeados pela doença. Eles contam como foram expulsos dos vilarejos e viveram anos com fome e desespero, até chegarem naquele ângulo da floresta, com casas limpas, trabalho, amigos, cuidados médicos e o abraço de padre Cesare.
William roda um lindo filme. Fala daquela cidade composta por doentes que têm esperanças e se ajudam, de um missionário, das irmãs, das dificuldades e dores, mas também de uma dignidade nova.
É hora de partir. “Não fique triste – lhe diz padre Cesare – diga ao mundo que os leprosos têm o mesmo coração dos outros e que se pode ser feliz mesmo com a lepra”.
Enquanto sobe no jipe, em meio aos cantos e danças, colocam-lhe na mochila uma Bíblia. “Tenha-a contigo como recordação e leia-a, te aconselho”. William a abre dentro do avião. Encontra um trecho que conhece, mas que sempre achou sem significado, longe da realidade e dos problemas de hoje.
Agora, com lágrimas aos olhos, relê: “Veio então um anjo e me transportou em espírito sobre um monte e me mostrou a cidade santa, resplendente da glória de Deus…” (Ap 21 e 22). Pensa no vilarejo dos leprosos, que chegam sujos, famintos, esqueléticos e que lá redobraram as forças, ajudaram-se reciprocamente. Todos expulsam os leprosos, mas padre Cesare os procura; todos os temem e ele os ama. A lepra não é a que corrói as mãos dos doentes, mas a que corrói o coração de muitos sadios.
Decide, o nome do filme será “A cidade da alegria”, a cidade que aqui na terra, entre dores e dificuldades, nos faz ver um pouco daquela cidade santa que o Apocalipse anuncia, onde o Senhor Deus os iluminará e reinarão pelos séculos dos séculos.
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