
(Foto: Warren Wong/Unsplash)
As religiões, embora carreguem tradições e dogmas distintos, têm algo em comum: aproximar o humano do sagrado. O fundamentalismo religioso, por outro lado, exclui essa possibilidade e abre espaço para falta de diálogo, intolerância e violência
Quais as causas de tamanha violência, agressão, guerras e mortes? Questões políticas, econômicas e culturais certamente fazem parte das explicações. Mas há, entre elas, uma explicação que se sobrepõe às demais: questões religiosas. E aqui nos perguntamos:
Mas não é justamente na religião que as pessoas procuram abrigo, buscam a paz, constroem comunidades fraternas e nelas encontram um código de conduta ética universal capaz de orientar todos a viverem uma vida justa e pacífica? Como explicar e, mais ainda, entender que se façam guerras em nome da religião e de Deus?
Fundamentalismo religioso
Esse paradoxo pode ser explicado a partir do fundamentalismo religioso, conceito geralmente associado a ideias sectárias e inflexíveis sobre determinado tema, sobretudo relacionadas à religião. Em sentido amplo, aplica-se o termo à economia e à política (fundamentalismo político, fundamentalismo econômico), mas foi no campo da religião que tal conceito assumiu sua significação mais restrita e usual e é a essa área que ele é comumente associado.
A expressão “fundamentalismo” foi formalmente definida e aplicada pela primeira vez nos Estados Unidos (1920) pelo pastor americano Curtis Lee Laws, da Igreja Batista. Reagindo ao movimento liberal protestante que se abria ao mundo da cultura e da ciência naquela época (inclusive propondo um diálogo com a teoria da evolução de Darwin), Laws convocou seus seguidores a conservarem seus dogmas e a se aterem fielmente ao que estava escrito nas Sagradas Escrituras. Neste contexto, o fundamentalismo era eminentemente de natureza doutrinal e exegética.
A princípio, não há nenhum problema no movimento que procura rever e resgatar os fundamentos de uma determinada religião. Todas elas são baseadas em estruturas sólidas, leis reveladas, livros sagrados e prescrições éticas que as identificam e as tornam essenciais para os seres humanos. O problema aparece em duas situações: a leitura radical dos fundamentos religiosos, sem a devida adaptação e interpretação aos tempos e lugares, e a apropriação do discurso e da experiência religiosa para justificar e fundamentar o universo da política e para legitimar um determinado Estado ou ideologia. A primeira situação impede o diálogo inter-religioso à medida que a defesa de uma determinada religião exclui a possibilidade da outra. A segunda, além de não aceitar outra alternativa, lança mão do poder, da violência e das armas para eliminar os divergentes.
Na minha visão, estas são as principais causas e explicações para a existência de guerras, terrorismo e mortes em nome da religião e de Deus. E nenhuma religião, por mais antiga e grande que seja, esteve ou está isenta disso.
Grupos extremistas
Entre os exemplos da mistura de religião, política e ideologia citamos o caso do grupo terrorista IRA, na Irlanda, composto por paramilitares católicos que propunham uma agenda política para separar do Reino Unido a Irlanda do Norte. Em seu discurso convergia temas políticos associados a temas da doutrina católica.
Outro exemplo é o da Klux Klux Klan, que associava questões raciais e eugenistas com as doutrinas do protestantismo puritano nos Estados Unidos. Finalmente, citemos o Wahhabismo islâmico, que deu origem à Irmandade Muçulmana, no Oriente Médio, berço de muitos terroristas, entre eles Osama Bin Laden.
No Conselho Mundial das Religiões, realizado em Chicago, em 1993, chegou-se ao consenso que as religiões têm muito mais pontos em comum do que divergências, e que mesmo estas são decorrentes de fatores culturais, temporais e históricos, sendo, portanto, necessário que sejam vistas com relatividade.
A experiência da transcendência e do transcendente, a certeza que a vida é um dom e não se esgota no limite da nossa materialidade, o valor e dignidade do ser humano, o sentido da vida, a necessidade de cuidarmos do planeta como casa comum e a busca de uma vida fraterna são alguns dos temas derivados dessa confluência.
A religião (com seus templos, ritos, signos, rituais, linguagens, textos sagrados) é fonte de amor, de fraternidade e paz. As guerras são feitas por outros motivos, muitos deles endeusados: poder, ambição, egocentrismo, etnocentrismo, fundamentalismos.
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