O escritor francês Guy de Maupassant (1850-1893) definiu a Capela Palatina de Palermo como “a igreja mais bonita do mundo”
O piso é de mosaicos, não com peças de vidro, mas em pedras semipreciosas, como pórfiro. É, portanto, um piso árabe, como árabes são as ‘palmeirazinhas’ estilizadas que adornam as paredes, acima das quais se encontram mosaicos bizantinos.
Na Capela tudo tem um significado. A forma quadrada do presbitério representa os quatro elementos naturais (terra, ar, água e fogo) dos quais, de acordo com os antigos, origina-se a matéria. Na base octogonal da cúpula são representados os evangelistas e os quatro profetas maiores.
O octógono, para significar o oitavo dia da ressurreição, mas também do juízo final. Por último, o círculo, isto é, a figura geométrica que, não tendo princípio e nem fim, simboliza a perfeição de Deus. Sobre ele, na cúpula, o reino celestial onde Cristo, o supremo Senhor, é cercado por arcanjos e anjos. Em volta desta, a inscrição: “O céu é o meu trono e a terra é o escabelo dos meus pés” (Is 66,1).
Na abside (no centro do templo, onde fica o altar-mor, ndr) vemos o Cristo Pantocrator, Senhor da Criação, que dá a bênção com a mão direita, à grega, enquanto com a esquerda segura a Bíblia, na qual está escrito em grego e latim: “Eu sou a luz do mundo, quem me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida” (Jo 8,12). Uma luz, a divina, é simbolizada pelo ouro dominante nos mosaicos bizantinos.
Sob o Pantocrator, a figura de Maria. É uma Madona Barroca, realizada mais tarde para encobrir uma janela que originalmente filtrava os primeiros raios do sol. Mas se vê uma Madona do século XII acima do arco que precede a abside. Representa a Anunciação: à sua esquerda, o arcanjo Gabriel e uma pomba com um raio de luz, que simboliza o
Espírito Santo.
Único no mundo é o que se vê no teto. Trata-se de um teto à muqarnas, isto é, um tipo de adorno arquitetônico em forma de pequenas abóbadas. São 750 pinturas independentes que representam o paraíso corânico, ou seja, todos os prazeres dos sentidos e do espírito à espera dos crentes. Árvores, monstros, pavões, águias; homens agachados com as pernas cruzadas à árabe, geralmente no ato de beber ou caçar; além de tocadores de tambores, de castanholas e de harpa, danças. Todos esses cenários pertencem à iconografia islâmica profana, significando o desejo de uma vida feliz após a morte.
O amor e a perfeição com que os artistas muçulmanos e cristãos pintaram cenas da vida do dia a dia testemunham o espírito com que trabalharam e a dedicação voltada só para a glória de Deus. É verdade: o trabalho artístico é uma forma de adoração.