Mais do que o contato físico, perde-se a empatia. Aos poucos, nas sociedades mais numerosas e cosmopolitas de sempre, vamos perdendo a nossa humanidade
Infelizmente, porém, percebemos que há imensos elos inexistentes ou ineficazes, o que atira uma fatia enorme da população para uma situação dramática e para a qual não existe uma solução única e imediata. Não só isso, mas temos uma abordagem quase que punitiva para com esta fatia da população, que passa quase automaticamente a ser vista como indesejável. Falamos, por exemplo, “os drogados”, “os moradores de rua”, “os analfabetos”, como se esta parcela da sociedade fosse diferente, como se nada tivéssemos a ver com ela. Mas, ao fazê-lo, ignoramos que, muitas vezes, o que nos separa desta camada de ‘indesejáveis’ é só o fato de termos nós próprios uma rede mais sólida, que faz com que não nos afundemos num dos muitos tropeções da vida.
Sem cair em exageros sobre qual é o nosso papel, o que se exige é que se pense na sociedade como um todo, não apenas como uma coleção de partes. Que não pensemos na nossa felicidade individual a qualquer custo. Estamos mais conectados e curiosamente mais distantes, sim. Mas, mais do que o contato físico, perde-se o calor, perde-se a empatia, acumulando-se o cinzentismo, o rancor, tudo o que temos de negativo. Aos poucos, nas sociedades mais numerosas e cosmopolitas de sempre, vamos perdendo a nossa humanidade.
A vida irá quebrar a maior parte de nós. E isso, mais uma vez, deveria ser algo que nos aproxima. É nessa fragilidade que nos encontraremos e a mudança começará quando, de forma constante e assertiva, formos melhores uns para os outros.
Quando praticarmos a caridade de forma constante, quando formos mais gentis, quando estivermos mais disponíveis. Quando escutarmos. Quando não ligarmos ao amigo médico para nos passar à frente. Ao amigo polícia para safar de multas. Quando, com pequenos gestos, nos tornarmos a melhor versão de nós mesmos, todos os dias. Quando voltarmos a ser tolerantes, para nós e para com o outro.
Se pensarmos nos melhores momentos da vida, do que mais nos lembramos não foi o atingir de um objetivo qualquer – mas sim a partilha dessa felicidade com os que mais amamos. Esse é, sempre, o elemento comum. A partilha. A cor. A alegria. E deveríamos ser capazes de partilhar o que de tão positivo há, de forma constante, com todos os membros da comunidade.
Não são mudanças radicais, nem tal se exige. Temos apenas de perceber que, com simples palavras e uma mão amiga, poderemos transformar as vidas dos que nos rodeiam. E só essa partilha dá sentido à existência em sociedade. É aqui que começa a experiência humana.