Com um novo recorde de refugiados no mundo, crise de deslocamento forçado é a maior violação de direitos humanos desde a 2ª Guerra Mundial
“Um pesadelo humanitário e de direitos humanos”. Essa foi a expressão usada recentemente pelo secretário-geral da ONU, António Guterres, para definir a crise de refugiados, em especial a situação vivenciada pelos rohingyas. A minoria muçulmana protagoniza atualmente o deslocamento forçado que mais cresce no mundo. Segundo estimativas, em apenas quatro meses (entre agosto e dezembro de 2017) mais de 800 mil civis fugiram de suas casas no estado de Rakhine, leste de Mianmar, em busca de proteção no Bangladesh.
À medida que esse número cresce, as agências da ONU e seus parceiros têm mais dificuldades para levar assistência, pois os campos estão superlotados. Além disso, a questão financeira também se impõe como um desafio. “Bangladesh não é um país rico e não são pessoas ricas que ajudam. Isso, junto com a decisão tomada pelo primeiro-ministro para manter as fronteiras abertas, permitindo que as pessoas entrem, realmente deve ser elogiado. Mais uma vez, um país com poucos recursos dá um exemplo muito positivo em termos de solidariedade aos países que possuem muitos recursos e mesmo assim restringem o acesso”, afirmou o alto-comissário das Nações Unidas para os Refugiados, Filippo Grandi.
OS 6 PAÍSES QUE MAIS RECEBERAM REFUGIADOS (unidade: mil)
Pacto global a passos lentos
Em novembro do ano passado, um ano após a consolidação de um compromisso mundial para buscar melhorar a resposta à situação dos refugiados globalmente, a tragédia do deslocamento forçado se mostrou ainda mais grave, conforme o porta-voz do ACNUR. “Nossa missão é mais urgente que nunca. O êxodo de Mianmar para Bangladesh é o de maior visibilidade, mas civis inocentes de outros lugares continuam sendo forçados a fugir para salvar suas vidas”, declarou durante um evento realizado em Genebra.
O encontro teve como objetivo analisar os resultados das consultas realizadas desde que 193 Estados-membros das Nações Unidas adotaram a Declaração de Nova Iorque, em 2016, na qual se comprometem, em um pacto global, a compartilhar a responsabilidade pelos refugiados do mundo e apoiar as comunidades que os acolhem. Isso incluiu o estabelecimento de um Marco Integral de Resposta aos Refugiados (CRRF), que por enquanto está apenas no papel. “O pacto global deveria ser um instrumento para transformar aquele compromisso em ação, assim os refugiados teriam uma chance real de reconstruir suas vidas e contribuir com as comunidades que os acolheram”, acrescentou.
Ainda de acordo com o representante do ACNUR, o fracasso da cooperação internacional pode ser exemplificado com o número de nações que fecharam suas fronteiras e não deixaram esses povos entrarem. “Os refugiados pagam o preço, assim como diversos países que têm o peso de hospedá-los sem o apoio confiável de outros que possuem mais condição para fazê-lo”, concluiu.