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Antioquia, entre os esquecidos do terremoto na Turquia

Enquanto os holofotes do mundo estão voltados para a tragédia em Mianmar, na região da Turquia atingida em 6 de fevereiro de 2023 por um terremoto de proporções semelhantes, a reconstrução ainda parece distante. “O terremoto está sempre conosco: no trauma vivido, nas pessoas que perdemos, nos edifícios destruídos entre os quais caminhamos todos os dias.”

Foto: CAN Erok / AFP
Foto: CAN Erok / AFP

Zeyneb caminha de cabeça baixa pelas ruas de terra batida, levantando a cada passo uma pequena nuvem de poeira. Essa poeira pesada, que gruda na pele e entope a garganta, é onipresente em Antakya — a antiga Antioquia sobre o Orontes, de história milenar, cujo centro histórico foi por séculos um vibrante labirinto de ruelas ladeadas por lojas e antigos locais de culto das três grandes religiões. Ver tudo isso hoje reduzido a um amontoado de escombros, tira o fôlego. Mesmo passados mais de dois anos daquele 6 de fevereiro de 2023, quando um terremoto devastador entre o sul da Turquia e o nordeste da Síria causou oficialmente 60 mil mortes, o tempo aqui parece não ter avançado.


“Muitos se alojaram em vilarejos próximos, hospedados por parentes, enquanto muitos outros ainda vivem nos centros de acolhimento temporários montados pelo governo em toda a província”, conta o padre Francis Dondu, missionário capuchinho de origem indiana que viveu pessoalmente o terror do terremoto. Naquela noite, ele estava na residência ao lado da pequena igreja católica de São Pedro e São Paulo: um complexo em estilo árabe tradicional, mas renovado, que apesar de alguns danos permaneceu em pé e acolheu muitos deslocados nas primeiras semanas da emergência. “Logo após o terremoto, me vi retirando pessoas dos escombros, havia mortos e feridos por todos os lados: foi uma experiência traumática. Naquele momento de desespero, trabalhamos lado a lado com o sacerdote da vizinha igreja ortodoxa, um belíssimo edifício do primeiro século da era cristã, que infelizmente desabou completamente.”

Nas cercas que hoje circundam os escombros da igreja, ainda visíveis com alguns textos sagrados entre as pedras, um painel descreve os planos de reconstrução. No entanto, as autoridades locais ainda não concederam as licenças necessárias, e as obras sequer começaram. Enquanto isso, o sacerdote se mudou para outra cidade e também os fiéis diminuíram drasticamente: das cerca de 370 famílias greco-ortodoxas que viviam em Antakya antes de 2023, restam apenas vinte. Muitos, no entanto, ainda voltam durante o dia para trabalhar, como George e Naim, que mantêm duas joalherias no mercado municipal, agora reconstruído em contêineres após o colapso do antigo mercado com os tremores. Naim chora ao mostrar fotos de seu irmão e sobrinho — jovem, bonito e sorridente — que morreram esmagados pelo desabamento da casa. “Os socorristas demoraram a chegar porque nosso bairro é cristão”, denuncia, amargurado. O que é certo é que a destruição não respeitou fé ou religião. Nem poupou locais de culto: a grande mesquita próxima ao rio desapareceu, assim como a antiquíssima sinagoga onde, segundo os Atos dos Apóstolos, Paulo e Barnabé começaram a pregar em nome de Jesus — este é o lugar onde os seguidores do Evangelho foram chamados “cristãos” pela primeira vez.


O descontentamento e a frustração pela lentidão da reconstrução são generalizados, mesmo que muitos reconheçam a enorme complexidade da tarefa, e confirmem que as famílias mais afetadas receberam indenizações do Estado. Selçuk, um jovem engenheiro nascido e criado em Iskenderun — outra cidade da província de Hatay fortemente atingida — comenta: “Sinceramente, acredito que qualquer governo teria enfrentado as mesmas dificuldades”, diz, enquanto mostra um dos centros de acolhimento onde famílias desabrigadas vivem há mais de dois anos, em contêineres enfileirados. Julia vive em uma dessas casinhas: “É difícil – admite – mas felizmente tenho um trabalho no hospital e consigo viver com dignidade. Espero poder voltar logo a uma casa de verdade. Por enquanto, a vida continua, apesar de tudo. Felizmente, não estou sozinha, tenho uma comunidade que me apoia.”


Julia se refere aos fiéis e catecúmenos, como ela, que frequentam a paróquia latina da Anunciação. A igreja está em ruínas. “Mas o que mais importa — afirma A’gi, jovem focolarina húngara que vive aqui há alguns anos — são as pedras vivas da pequena igreja turca. São elas que esperamos ver se reerguer.”


Por Chiara Zappa - AsiaNews - tradução Valesca Montenegro - Redação Mundo e Missão

 

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