No país do Oriente Médio, que enfrenta um novo governo e grandes problemas de pobreza e sobrevivência, todas as igrejas prepararam as festividades natalinas com intensa oração e grande alegria. Dom Jacques Mourad, arcebispo sírio de Homs, afirma: "Muitos fiéis ainda vivem com medo, não é fácil apagar a dor provocada por 50 anos de perseguições que atingiram nosso povo".
"Este Natal tem realmente um sabor diferente, o mais distinto de todos os que vivemos no passado." As palavras de dom Yagop Jacques Mourad são como uma montanha-russa. Primeiro, elevam: "Na Síria, todas as igrejas este ano celebram o Natal de um modo realmente especial, novo. A alegria está visível nas decorações, na intensidade das orações, nos preparativos das celebrações." Depois, descem: "Muitos fiéis ainda vivem com medo, em uma espécie de fechamento defensivo: não é fácil apagar a dor provocada por 50 anos de perseguições que atingiram nosso povo."
Dom Mourad é o arcebispo sírio de Homs, a terceira maior cidade do país em número de habitantes, e ainda carrega as cicatrizes da violência que sofreu em 2015, quando um grupo de extremistas islâmicos o capturou à força no mosteiro de São Elian, onde ele era pároco, e o manteve preso por cinco meses. O prelado conhece bem o terror que paralisa, mas acredita que agora a história está escrevendo uma nova página.
Suspensão do embargo
Essa convicção torna-se clara durante uma longa conversa aberta com os meios de comunicação do Vaticano, quando expressa uma ideia carregada de otimismo sincero: "Como Igreja Católica, temos o dever de encorajar as pessoas a viverem plenamente o Natal, porque para a Síria vislumbra-se um novo renascimento." No entanto, ele sabe que não será fácil. Desde a queda do presidente Bashar al-Assad, o arcebispo reconhece no novo governo o esforço em "disponibilizar para o povo todos os bens de primeira necessidade, como água e petróleo. Mas não há dinheiro e os salários não foram pagos. E o povo continua vivendo na mais extrema pobreza: aqui falta de tudo."
A suspensão do embargo internacional, que pesa como uma pedra na vida diária de um país desesperado, talvez não seja a solução definitiva, mas dom Mourad a considera um passo essencial e necessário, e faz um apelo vigoroso nesse sentido: "É uma das iniciativas que precisam ser adotadas em breve."
Uma constituição compartilhada
Para dom Mourad, assim como para toda a comunidade eclesial, o processo social e político que dará origem ao novo Estado sírio também é uma prioridade. Esse processo já começou, embora de forma lenta, desde as primeiras horas do novo governo. "A Igreja deu um passo muito importante: foi criado um comitê que serve para colocar a própria Igreja, entendida como hierarquia e povo de Deus, em contato com o novo governo. O objetivo é também perguntar às nossas pessoas quais são seus pensamentos e suas necessidades."
Outro papel do comitê, ainda que informal no momento, é buscar a redação conjunta de uma constituição futura: "A ideia dominante no governo atual é que a carta constitucional tenha uma inspiração muçulmana, baseada na Sharia, mas muitas pessoas de todas as comunidades étnicas, como curdos ou drusos, não aceitam isso. É por isso que tentamos intervir com diálogo para construir um Estado laico."
O retorno dos expatriados
O futuro da nova Síria também depende do retorno dos refugiados que, ao longo de 50 anos de terror, deixaram o país, mas agora desejam voltar. Esse é outro ponto de preocupação para dom Mourad: "Sei que muitos querem retornar, mas não agora. Estão no Iraque, no Líbano, na Turquia. Aqueles que fugiram de Aleppo, nos dias da queda de Assad, já retornaram. Até porque quem assumiu o poder garantiu que não faria mal ao povo."
No entanto, os cristãos que estão no Iraque, no Líbano ou no Curdistão iraquiano ainda hesitam em voltar. "Querem esperar. Observam como a situação se desenvolverá nos próximos meses. Depois, quem sabe." Desde 2011, início da guerra civil, apenas cerca de um quarto dos cristãos permaneceu na Síria; os demais se dispersaram pelo Oriente Médio, Europa, Canadá, Estados Unidos e Austrália. "Sabe qual é a minha esperança? — sussurra o arcebispo de Homs — Que pelo menos todos os cristãos que estão aqui perto, no Líbano, no Iraque, possam nos abraçar novamente: isso seria uma injeção de esperança não apenas para toda a nossa comunidade cristã, mas também para todo o país."
Por Federico Piana - Cidade do Vaticano
Obrigado por ter lido este artigo. Se quiser se manter atualizado sobre Mundo, Igreja e Missão, assine a nossa newsletter clicando aqui
Commentaires