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Sudão, a resistência dos cristãos

A presença da Igreja está restrita a poucas áreas controladas pelo exército sudanês. "Há enormes necessidades e dificuldades", testemunha o padre Diego Dalle Carbonare.


Foto de Jack Sharp - Unsplash
Foto de Jack Sharp -Unsplash

O apelo do Papa Francisco pela paz

A comunidade internacional deve "fazer todo o possível para que a ajuda humanitária necessária chegue aos deslocados e para ajudar os beligerantes a encontrar rapidamente caminhos para a paz". Esse foi o mais recente apelo feito pelo Papa Francisco durante o Angelus do domingo, 26 de janeiro, um chamado para pôr fim ao conflito que devasta o Sudão há dois anos e às consequências trágicas para sua população. A guerra forçou milhares de pessoas a fugir, ameaçando a estabilidade dos países vizinhos, especialmente o Sudão do Sul.


O Pontífice fez um forte pedido para que as partes em conflito cessem as hostilidades e negociem um acordo de paz. "Estou próximo das populações de ambos os países e as convido à fraternidade, à solidariedade, a evitar qualquer tipo de violência e a não se deixarem instrumentalizar", declarou.


Cristãos em meio ao conflito

A situação dos cristãos no Sudão é cada vez mais precária. Além de representarem uma pequena minoria em um país onde 95% da população é muçulmana, muitos são de origem sul-sudanesa e se refugiaram no Norte durante o conflito com o Sul. Agora, enfrentam uma nova fuga, desta vez em direção ao Sul.


"Os cristãos sofrem o que o restante da população sofre", afirma o padre Diego Dalle Carbonare, superior provincial dos missionários combonianos no Sudão e Egito. "Mas, em algumas ocasiões, há uma perseguição direcionada contra o pessoal e as estruturas da Igreja, especialmente por parte dos milicianos das Rapid Support Forces (RSF), que atacam, saqueiam, matam e violentam indiscriminadamente."

Igrejas sob ataque e a destruição do país

Um exemplo da situação caótica foi a visita surpresa do general Abdel Fattah Burhan, líder das Forças Armadas do Sudão (SAF), à paróquia de Port Sudan no Natal. Enquanto isso, em outras partes do país, reina o caos. A única política em vigor parece ser a da destruição e exploração, particularmente das minas de ouro, cuja produção aumentou dez vezes. Ambos os grupos armados utilizam o ouro para financiar a guerra e continuam atacando, saqueando e incendiando igrejas como parte de uma guerra santa.


"Não há um plano explícito de perseguição", explica padre Diego, "mas, na prática, é o que acontece: todas as igrejas foram alvo de violência".

Educação: esperança em meio ao conflito

Padre Diego chegou ao Sudão há dez anos e trabalhou por muito tempo em Cartum na administração do prestigiado Comboni College, fundado em 1929. A congregação comboniana sempre teve na educação uma de suas principais missões no país. Além do Comboni College, padre Diego também coordenava cerca de cinquenta escolas da diocese de Cartum. "Hoje, restam em funcionamento menos de dez", lamenta o missionário.


Por outro lado, há uma esperança na universidade da Faculdade de Enfermagem, que foi transferida para Port Sudan com o apoio das Conferências Episcopais da Itália e da Alemanha. Atualmente, as aulas são realizadas principalmente online, permitindo que estudantes refugiados, seja no Darfur ou até fora do Sudão, possam continuar seus estudos.


A Igreja resiste com poucos missionários

"No início do conflito", relata padre Diego, "éramos vinte missionários combonianos no Sudão. Agora, restamos nove. Tivemos que abandonar a casa provincial em Cartum e nos transferimos parcialmente para Port Sudan, que, na prática, se tornou a capital."

O arcebispo de Cartum também precisou se mudar temporariamente para Port Sudan, antes de seguir para Atbara. Outros missionários tiveram que deixar El Obeid, que estava cercada, e se estabeleceram em Kosti. As últimas religiosas que ainda permaneciam no país, quatro missionárias da Caridade e duas irmãs do Sagrado Coração, acabaram deixando o Sudão.


Atualmente, a Igreja só está presente em áreas controladas pelas SAF. Nas regiões ocupadas pelas RSF, não há mais nenhuma paróquia ativa. "Em Kosti", conta padre Diego, "estão o bispo auxiliar de Cartum, um padre diocesano e quatro missionários combonianos que administram duas paróquias. Há um número enorme de deslocados que, infelizmente, precisam decidir entre permanecer em um país em guerra ou seguir para o Sudão do Sul, onde a situação também é extremamente frágil."

O drama dos deslocados na fronteira com o Sudão do Sul

Para visitar seus confrades em Kosti, padre Diego precisou passar pelo Sudão do Sul, através de Renk, uma das áreas que continuam recebendo milhares de pessoas em fuga. Segundo a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), mais de um milhão de pessoas já atravessaram a fronteira, sendo cerca de 700 mil considerados "retornados" – sul-sudaneses que antes viviam no Norte, mas que agora não têm mais nada para onde voltar.


O Sudão do Sul, no entanto, é um dos países mais pobres do mundo, sem infraestrutura e marcado por conflitos internos.

"Desta forma", conclui padre Diego, "dos dois lados da fronteira, há milhares de pessoas fugindo com necessidades imensas e dificuldades extremas".

Por Anna Pozzi - Mondo e Missione - tradução e adaptação Valesca Montenegro

 

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